Marcia Nuriah - Palestra MP 2015

 Hoje iremos divulgar uma palestra bem legal, que ocorrera no Mercado Persa 2015 ( maiores informações, como horários, inscrições, no site do evento). O MP, acontecerá entre os dias 10 a 12 de Abril, o WTC Events Center - SP

E NOS DA MAFIA IREMOS SORTEAR 2(DOIS) INGRESSOS COM ACOMPANHANTES, PARA O MP... (aguardem mais informações)



A Mafia, perguntou a Márcia Nuriah:
    - Oque ela pretende com essa palestra?
    - Poque ela achou isso necessário, e que resultados ela espera com a Palestra?


Segue na integra a resposta dela...



Eu pretendo mostrar como é possível utilizar elementos de danças acadêmicas ocidentais como o ballet clássico e contemporâneo em coreografias de dança do ventre de forma a melhorar a performance. Claro que você - a não ser que se proponha apresentar uma fusão bem especifica - não vai colocar um sapatilha de ponta e nem sair fazendo fouettes . Mas uma melhor utilização de linhas corporais, incorporação de linhas de cabeça, alinhamento de bracos, postura e equilíbrio, uma melhora na qualidade de giros, etc, podem ser alcançados com o conhecimento de técnicas básicas dessas danças.

Obviamente isso depende do estilo de dança que você se propõe a apresentar, o espaço cênico em que vai acontecer a performance e o tipo de publico que estará presente.
Não estou propondo uma descaracterização das danças folclóricas e nem tradicionais. Esses estilos tem características muito próprias e que se opõe as chamadas danças acadêmicas ocidentais ( por isso a expressão "encontro entre os opostos ") . Não é possível fazer fusões sem ter primeiro o domínio dessas técnicas.

Mas com o advento da modernização das danças árabes - que é mesmo uma ocidentalização da modalidade inclusive a partir de uma produção musical mais ocidentalizada - houve uma aproximação dos estilos.

Isso aconteceu de forma peculiar. Pretendo falar da aproximação, através da historia, da dança árabe com a dança clássica ocidental bem como da aproximação do ballet já neoclássico das danças orientais em geral - inclusive dança do ventre - que resultou na dança contemporânea dos anos 20.

Há muita polemica em relação a essa modernização e muita intolerância por parte de artistas mais conservadores, o que eu entendo como uma tentativa de preservar uma essência que pode se perder com o tempo, uma vez que essa influencia se faz presente com forca ate mesmo no Egito, considerado o berço exportador da dança árabe. Acho compreensível essa preocupação.

Porem eu considero que não é possível incorporar técnicas diferenciadas se você não dominar muito bem as técnicas de base da primeira modalidade. Por isso a palestra é aberta para o publico em geral mas a Master Class é restrita a professores.

Não se trata de descaraterizar uma dança e sim exercer de liberdade de criação artística para compor espetáculos elaborados com utilização de multi linguagens. Isso é uma proposta mais elaborada artisticamente .

Também há que diferenciar : existe "Fusão"e " Confusão". E preciso estar consciente do que pertence a qual técnica e como utiliza-las.

Eu não acho que seja "necessário" mas eu acho super interessante essa palestra do ponto de vista artístico e que um profissional que se proponha a trabalhar de forma diferenciada colete o maior numero de informações possível para seu repertorio.

Aqui na Europa as pessoas são muito conservadoras com relação as propostas folclóricas e tradicionais e ao mesmo tempo muito criativas com relação a propostas de fusões. A maioria dos professores é egípcia , chamam snuges de sagat, mas há muitos bailarinos egípcios em companhias profissionais de ballet que apresentam fusões nos festivais, como Nwarin Gad ,do Altho Theater, e são muito respeitados.

Eu vejo a dança como uma forma de comunicação. Uma técnica de dança é uma linguagem através da qual você expressa uma intenção, você quer dizer alguma coisa. Uma dança com utilização de multi linguagem abre o leque de possibilidades de comunicação. Como eu digo, nem tudo na vida é folclore.

Com relação as polemicas atuais ai sobre esse tema eu reitero que entendo a preocupação em preservar a essência da dança árabe que realmente pode se perder caso as pessoas não partam seu aprendizado do principio que é o tradicional, e que não é possível incorporar técnicas diferenciadas antes de dominar os princípios da técnica inicial , ou seja: primeiro você precisa conhecer muito bem a dança do ventre antes de incorporar elementos de outras técnicas para que saia bem feito.

Mas não foram polemicas que me motivaram, eu já tinha fechado a programação há bastante tempo com a Shalimar e já dei vários workshops inclusive aqui na Europa sobre esse tema.

Agora eu vejo a arte como um dos únicos campos onde podemos exercer a liberdade de forma plena. Não há desrespeito nenhum em se apresentar uma proposta diferenciada dentro de uma manifestação artística desde que coerente com os fins a que ela se destina. Acho isso positivo. Não se pode tolher o desenvolvimento impondo regras de comportamento desde o ponto de vista da linguagem ate mesmo estético.

Para isso já basta a proposta comercial , que tem limitado a dança a uma repetição e a padrões estéticos que, convenhamos , estão muito longe daqueles que representam a identidade cultural Arabe tradicional.
Essa imposição é que restringe ate o gosto pessoal de cada artista que deve poder encontrar e manifestar a linguagem com a qual melhor se identifica.

Mas desrespeito mesmo pressupõe ofensa. Que ofensa há em se incorporar tecnicamente linguagens diferenciadas em manifestações artísticas ?

Nesse ponto podemos comparar as brasileiras como asiáticos dançando samba. Uma vez que muitas de nos não tem qualquer relação de identidade ou ascendência árabe é necessário estudar muuuuuuuiiiito para pode incorporar tecnicamente aquilo que nas árabes é quase atávico, que já nascem compreendendo.

Nada mais justo e honesto do que incorporar em algum momento algo de sua identidade na sua arte, e essa identidade é ocidental.

Porque a dança argentina tem "cara de tango" as vezes? Muita gente não gosta, mas não há como negar que tecnicamente é uma dança muito elaborada, difícil, e verdadeira apesar de estar longe do tradicional.

Não é necessário gostar, mas não se pode lhes negar o direito de existência e nem o reconhecimento do trabalho para se chegar nesse resultado


Não é defender a fusão contra o tradicional ou folclórico, como alguns insistem em colocar. E entender que se tratam de coisas diferentes e que cada uma tem o seu espaço e o seu publico.

Eu espero contribuir de alguma forma com o aprimoramento profissional e conhecimento de pessoas que tenham interesse em uma proposta artística diferenciada. Abrir portas, construir pontes.

E eu defendo uma proposta artística e não comercial. Eu acho que a proposta comercial da ocidentalização dos padrões estéticos da dança, tao limitantes e tao reprodutivos, é que podem ameaçar a sobrevivência da essência dessa técnica.

A palestra sera no sábado as 11:30 horas. A Master Class sera sábado das 12:30 as 13:30, restrita a professoras.

Lembrando: A Mafia da DV, não se responsabiliza, por ideais postados aqui, cada entrevistado é responsável por suas opiniões. Não quer dizer que postado aqui, somos a favor, ou contra o assunto discutido.

Comentários

manfarita disse…
A Marcia é minha mestra... sim, considero ainda aluna dela. FAz muitos anos que encontrei essa profissional exemplar. Aprendi com ela a maior parte do que entendo por dança do ventre!! É um exemplo de profissionalismo e humildade. E essa é uma grande oportunidade!
grande beijo!
Paula