Shaide Halin - Um pouco mais de nossos artistas -(XXIV)


Hoje vamos conhecer um pouco do trabalho diferenciado realizado pela Shaide Halin

1)Há quanto tempo você dança?
Pratico dança desde os 5 anos de idade, começando pelo ballet clássico, que ainda faço até hoje, e depois descobrindo várias outras modalidades. Hoje estou com 34 (ai, que horror! ^-^).

2)O que te motivou a começar a Dançar?E quando você teve certeza que era isso que você queria para o seu futuro?
Minha avó foi minha motivação inicial. Ela achava que toda menina devia praticar ballet e me inscreveu nas aulas quando eu ainda nem tinha muita consciência se gostava ou não daquilo. Mas logo eu já estava apaixonada por todo esse universo.
Acho que minha certeza de que a dança seria meu caminho veio quando eu tinha 15 anos e fui convidada à assumir minha primeira turma de alunas, de ballet clássico, por indicação da minha professora. Logo eu também já estava lecionando jazz dance, e desde então a dança é minha atividade profissional.
3) Quais professoras?Que cursos você fez?Quais foram seus favoritos?
Ainda faço ballet, jazz, street dance, sapateado e danças vintage. Já passei pela dança afro, dança contemporânea, flamenco, dança indiana, dança do ventre, dança de salão, dança havaiana (que estou voltando a praticar). Todos as modalidades de dança me atraem. Eu costumo querer investigar todas elas, e depois vou definindo aquelas que mais me tocam, para seguir adiante. 
Tive muitos professores maravilhosos, e escreveria um texto enorme se fosse citar todos, mas acho que posso destacar alguns que me marcaram, que me ensinaram coisas que continuo a utilizar até os dias de hoje:
- Enézio Silva, professor de ballet clássico do Ballet Nacional do Brasil, que me ensinou que para a dança ser completa é preciso explorar a emoção e não apenas o corpo;
- Ally José, professor de ballet clássico da Escola Municipal de Bailados, que me incentivou a nunca desistir do ballet ao valorizar meu potencial mesmo com meu biotipo fora dos padrões exigidos pela modalidade;
- Dayoner Romero, um dos melhores professores de jazz dance que já tive na vida, rigoroso, me deu muita bronca, me fez suar muito, e com isso eu aprendi que sem dedicação, esforço, e um pouco de sofrimento também, a gente não chega aonde quer.
Já minhas modalidades preferidas são o jazz dance, pelo dinamismo e liberdade de criação, o ballet, que me traz um sofrimento necessário, mas sem dúvidas é a base perfeita para todas as danças, e agora as danças vintage, que saem dos padrões convencionais estéticos, trazendo uma dança mais livre, onde se divertir é a prioridade máxima.
4)Quais são suas maiores inspirações?
Ah, são muitas.  E a cada dia eu arrumo novos ídolos, em cada dança. Atualmente eu busco inspiração em artistas de danças vintage, poucos conhecidos do público que não faz parte dessa modalidade, como Hannah Zetterman, Fanny Spankings, Sharon Davis, Max Pitruzella e Annie Trudeau, entre outros. Jazz, ballet e dança contemporânea têm um número sem fim de grupos e profissionais de primeira linha. No Street Dance eu descobri recentemente o trabalho de Bryan Tanaka, e já de longo tempo acompanho os meninos do grupo Discípulos do Ritmo, brasileiros de talento incomparável, e do francês Salah. Quando eu praticava dança do ventre minha musa inspiradora sempre foi minha professora, Lulu Sabongi, notadamente uma das maiores dançarinas brasileiras dessa modalidade.

5) Você ja sofreu algum tipo de preconceito,ou discriminação no meio da dança,ou de bailarinas particularmente?Como você lida com isso? 
Discriminação não seria o termo ideal, talvez incompreensão. Algumas pessoas não se dão ao trabalho de conhecer a fundo o trabalho alheio e falam coisas sem saber o que se passa de verdade. Quando iniciei com o Estilo Tribal no Brasil, por exemplo, o desconhecimento da modalidae fez com que muitas críticas fossem direcionadas ao meu trabalho. É engraçado ver que essas mesmas pessoas hoje praticam o Estilo Tribal. 
O mesmo acontece com as danças vintage, principalmente com o burlesque. As pessoas não pesquisam a história dessas modalidades, de onde vieram, o papel que tiveram na sociedade na época em que surgiram, e assim não conseguem absorver o que essas danças têm de bacana, se preocupando mais com a roupa que estou usando, se estou mostrando as pernas, se o decote do corset é mais ou menos profundo!
Eu sou muito cabeça fresca atualmente, mas já me preocupei muito com o que pensavam de mim, se gostavam ou não do que eu fazia. Com isso, deixei de fazer coisas que gostaria com medo da opinião alheia. Hoje em dia eu sei que tem público para tudo e para todos, e mesmo que alguém não goste, sempre haverá quem curta meu trabalho.

6)Quais os principais benefícios que a dança te trouxe?
 
Acho que a dança me trouxe vida, integralmente, pois eu vivo disso profissionalmente, como paixão pessoal... eu respiro dança 24 horas por dia. Sem a dança eu acho que morreria. Por isso, quando me sinto desestimulada com alguma modalidade, eu abro mão de pratica-la e vou em busca de outras formas de dançar. Com essa atitude, buscando sempre conhecer de tudo um pouco, acho que ganhei versatilidade.

7)Em algum momento durante sua carreira você pensou em largar tudo?
Várias vezes! Infelizmente, a culpa não é da dança e sim das pessoas do meio. Tem gente que não se deu conta ainda que dançar é muito mais do que mexer o corpinho por aí, é quase como um plano de vida.
Quem faz da dança sua profissão tem que lidar com gente de todo tipo. Professoras encontram alunas que acham que elas devem ser suas psicólogas além de lhes ensinar a dançar, bailarinas encontram colegas de caráter duvidoso, que para ganhar nome passam a perna nas outras sem a menor dor na consciência... topamos com contratantes que não tem nenhum respeito ao trabalho do artista, dando condições precárias de trabalho; sem falar dos profissionais que cobram uma miséria de cachê , prejudicando toda a classe, ajudando ainda mais na desvalorização da arte. E no Brasil, viver de arte é uma luta constante, já que não há empenho dos órgãos governamentais em estimular a produção cultural no país.
É claro que também tem muita gente bacana, que mesmo ganhando pouco a gente acha um jeito de se divertir. O mundo não é só desgraça, mas a guerra de egos e vaidades, assim como a pouca valorização da classe artística,  não é nada fácil de encarar. Aos poucos, se não estamos verdadeiramente amadurecidas, isso tudo vai minando nossas forças e é inevitável a vontade de abandonar o barco. Mas para quem tem determinação, o amadurecimento vem, não só o profissional, mas também o pessoal, e a gente começa a se importar menos com isso e a ressaltar as coisas boas que essa atividade nos traz: o prazer sem fim de subir nos palcos e mostrar nossa arte, a recompensadora atividade de ensinar pessoas a dançar, ver os alunos se desenvolvendo e alcançando também o mercado profissional. Isso compensa tudo, e nos faz pensar muitas vezes antes de realmente desistir.
8)O que você acha que tem de melhor?Seu ponto forte!
Acho que a facilidade de aceitar o novo, de ver a dança como algo universal, de ser curiosa ao extremo e querer sempre conhecer tudo e mais um pouco. Como já disse, isso me trouxe versatilidade, e é algo que eu considero muito importante para o artista, seja qual for a arte que se escolha seguir. Um artista que se prende à  regras, padrões, tradicionalismos, acaba não evoluindo, está apresentando sempre trabalhos muito parecidos e, com o tempo, o público cansa.

9)Nos conte um sonho de consumo,um sonho impossivel,e um já relizado.
Acho que o sonho realizado é viver de dança exclusivamente, ter minha escola, meus grupos de dança, fazer do que mais amo na vida minha profissão. Um sonho impossível? Ser uma bailarina clássica profissional... meu biotipo nunca me permitiria isso, mas eu não desisti do ballet mesmo assim, e hoje me realizo, um pouquinho ao menos, dando aulas dessa modalidade. Agora, meus sonhos de consumo são tantos! Voltar à Nova York para fazer bons cursos de dança por lá é um deles.

10)O trabalho de vintage que você realiza é algo diferente e muito interessante. O que te levou a esse estilo. E no que ele consiste.Nos conte um pouco dele.
 
É uma longa história que começou na minha infância. Meu pai tocava piano, se dedicava ao jazz music, portanto, minha formação musical desde cedo foi ouvindo sons "antigos". Na adolescência eu conheci o bom e velho rock dos anos 50 ao fazer parte de uma turma de amigos rockabillies, que frequentavam bailes temáticos. Além disso eu sempre fui apaixonada por filmes musicais antigos, pela diva Marilyn Monroe... tudo sempre me encaminhou a viver um pouco esse mundo de sonhos de outras épocas.
Há algum tempo eu venho estudando modalidades de danças antigas, por prazer pessoal, até que resolvi trazer isso para o meu universo profissional, montando um espetáculo temático com as alunas da minha escola. A coisa deu tão certo que acabou virando um curso oficial da escola, depois dando origem ao grupo de Dança C'est Vintage.
O curso, assim como o trabalho da cia de dança, é focado no universo de danças antigas, desde 1900 até os anos 50, ou seja, passamos por danças sociais como o charleston, o shag, o rockabilly, o lindy hop, mas também exploramos o universo da sensualidade das pin ups nos anos 40, das dançarinas dos cabarés dos anos 30, das tão conhecidas dançarinas de cancan, das performances burlescas etc.
11)Quais são seus projetos atuais e futuro?
A princípio continuar focada no desenvolvimento da Cia C'est Vintage, na divulgação das danças vintage no Brasil, e explorar mais o universo da dança burlesca. Além disso, minha cia de dança mais conhecida, a Cia Halim, deixou o universo oriental de vez, ou seja, não praticamos mais o Estilo Tribal. Atualmente continuamos trabalhando com fusão, mas com uma abordagem mais diversificada, mesclando jazz, dança contemporânea, street dance, danças étnicas em geral e tudo o mais que nos interessar, mas sem nos enquadrarmos nos rótulos do estilo tribal. Hoje eu digo que fazemos dança livre experimental, onde tudo é possível, desde a movimentação corporal até a escolha dos figurinos e musicas utilizadas.
Também continuo firme e forte lecionando minhas aulas, praticando meu ballet, descobrindo mais sobre o street dance - e xeretando sempre em busca de novas danças!
                       
12) E pra fugir um pouco a regra nos fale de você:
Sua cor preferida,comida favorita,time de futebol,cantor preferido,um filme inesquecivel,uma pessoa muito importante.Como é a Shaide pessoa...
Cor preferida; vermelho 
Comida: Ixe, eu sou boa de boca... mas adoro comida japonesa e italiana (é o sangue que fala mais alto!).
Time de futebol: Ai, eu odeio futebol! Não torço pra nenhum time, só vejo futebol de 4 em 4 anos, na Copa do Mundo! ^-~
Cantor: Elvis Presley, o rei!
Filme inesquecível; Não dá pra citar só um, gosto de muitos... O fabuloso destino de Amelie Poulain, Amores Expressos, Perfume, Bonequinha de Luxo, Os homens preferem as loiras (e todos os outros da Marilyn Monroe... vale só para vê-la em cena). Já perdi a conta de quantas vezes assisti esses citados! E todos os filmes de dança... compro para ver várias vezes! Mas sempre recomendo às pessoas o trabalho de Kristoff Kieslowski, cineasta polonês com uma obra impecável e que merece ser conhecida.
Uma pessoa imporante; Podem ser 2? Douglas Pupo, meu marido, que me dá uma super força em tudo, que me atiça, me provoca, me faz ir atrás do que eu quero, mas me faz ver as besteiras que faço também! E minha avó, que já faleceu, mas que foi uma segunda mãe na minha vida, minha conselheira sempre, que me botou nos eixos muitas vezes em que eu achava que estava sem rumo na vida!
A Shaide pessoa é meio destrambelhada. Chorona pra caramba, daquelas que se comove até com comercial de margarina, mas que também sabe ser dura quando necessário. Falo besteira, dou risada à toa, me porto às vezes como uma adolescenete retardada, e em outras como uma femme fatalle, tenho um lado espiritual bem forte hoje em dia, depois de anos de dúvida, adoro reunir a mulherada em casa pra falar besteira, saio menos do que gostaria, pois o trabalho acaba consumindo meu tempo por demais da conta, tenho planos mirabolates e tendo botar todos eles em ação e, claro, nem sempre dão certo, mas não tenho medo de meter as caras e enfrentar novos desafios. Acho que meu lema hoje é: melhor se arrepender do que dormir com vontade!

13)O que você acha dos concursos,selos,padrões?Eles realmente influenciam em algo?Ou seriam simplesmente algo para gerar discórdia?
Isso é relativo. Se vc acha que isso é necessário para tornar sua dança melhor, vc tem mais é que ir atrás mesmo! Nem que depois se arrependa. Mas eu não estimulo minhas alunas a buscar isso, assim como nunca fiz. Acredito que dançar tem que ser algo prazeiroso, quando vc se envolve em algo que te traz mais dor de cabeça do que prazer, está saindo do foco. No caso dos concursos, selos e padrões de qualidade, é uma boa maneira de vc receber uma avaliação externa sobre sua dança. Mas é preciso ter em mente que aquela é a opinião de um grupo muito pequeno, que existe um mundão de gente por aí que vai ter outra opinião. Ou seja, não dá pra se preocupar à toa e ganhar rugas pq não passou numa pré-seleção, assim como não dá pra se achar a última coca-cola do deserto pq foi primeiro lugar num concurso, por melhor que esse pareça ser.
14) O que você acha,que tem de mais errado no mundo da Dança?Em que ponto ficam coisas a desejar?
Acho que em todas as modalidades de dança existe uma certa competitividade desnecessária. Em umas menos, em outras mais. As pessoas esquecem que a dança tem que proporcionar prazer em primeiro lugar. Como já disse antes, se ela está te trazendo muita dor de cabeça é melhor rever seus conceitos! Competitividade só traz inimizades, fofocas e atritos desnecessários.
Um dos motivos que fez eu me afastar da dança do ventre foi o excesso de criticidade do meio. As pessoas criticam tudo, todos e mais um pouco. Se a dança é boa, a roupa é ruim. Se a roupa é boa, o cabelo é feio. Se o cabelo é bonito, a bailarina é gorda. Se é bonita o povo condena, se é feia, mais ainda. Se é sensual logo vira vulgar, se é recatada logo vira inexpressiva. A dança é a nossa expressão, não dá pra não ser sensual dançando se vc é assim em essência. E não dá pra ser um furacão se vc tem uma personalidade mais contida. Se as pessoas reparassem mais na diversidade de danças, de sensaçoes, de expressões, e menos na técnica, nos padrões, no corpo, na roupa, no estar ou não dentro das regras, conseguiriam vislumbrar um universo muito mais amplo e harmonioso, que é o que realmente podemos chamar de expressão artística.

15) Qual o conselho que você daria a quem esta começando agora? 
Nunca desista diante das primeiras dificuldades. Até pq, quanto mais tempo de estrada vc tiver, novas e maiores dificuldades aparecerão. E é só caminhando com paciência e persistência que a gente consegue realmente dançar. Também é bom ver que às vezes, aquela dança não é pra gente, mas a dança, em essência, sim. Se uma modalidade não está te agradando, tente outra. Uma vai se encaixar em suas expectativas.
Estude muito, consuma dança, assista videos, vá à espetáculos, leia sempre sobre o assunto, converse com as pessoas que já tem mais experiência na área, não fique num mundinho só, explore o universo da dança como um todo, pois tudo pode lhe servir de motivo de inspiração, independente da dança que escolha fazer.
E não duvide de sua capacidade... cada um tem um tempo de aprendizado, mais lento para umas, mais rápido para outras. E se não der pra se tornar uma profissional, ainda assim curta a dança, se divirta, se expresse não se preoupe com o que o resto do mundo pensa sobre o que vc faz. Pq antes de dançar para um público a gente tem que aprender a dançar pra gente mesmo!
 Videos:



Shaide Halim - danças vintage no II FWPS parte 1



C'est Vintage no Mary Pop - parte 7



Lalique Tribal Vintage no Esbá Café 4


mais informações:
www.laliquetribal.tk
www.shaidehalim.com.br


E essa foi nossa entrevista com Shaide Halin. Espero que tenham gostado e aprendido um pouco mais.

Comentários

Haiyat Raziya disse…
Embora não conheça muito bem a Shaide, eu gosto do geito despojado dela. Demonstra tudo akilo q a mulher tem q ser: bem resolvida, segura, puxando ao exterior seu charme para brilhar.
Qto a entrevista, amei em especial as respostas das perguntas 5 e 7. Na 5, ASSINO EMBAIXO. O desconhecimento faz as pessoas serem perfeitas pseudo-sábias retardadas, condenando ao escárnio akilo q desconhecem. Me impressiona o qto essa ferramenta maravilhosa chamada NET ainda serve de diversão vazia e preenchimento de egos doentes, ao invés de servir de instrumento de estudo e conhecimento. O burlesque citado pela Shaide é um bom exemplo. Para nós, q procuramos nos informar e ampliar conhecimentos, nos resta suportar as sandices q lemos e ouvimos... affffff (cont)
Haiyat Raziya disse…
Qto a resposta da pergunta 7, tb me senti bastante familiarizada, o q me leva a concluir q em meus sentimentos e minhas ações, estou no caminho certo. Tb já me reservei demais, me importei demais e quis agradar demais, e com isso só consegui vida e satisfação de menos. Hoje tb me sinto transformada, por isso meus 2 símbolos são a FÊNIX e a DEUSA ISIS: Símbolos de força e transformação.
Como a Shaide, tb acredito q ngm nunca será unanimidade ("toda unanimidade é burra" NELSON RODRIGUES), mas o importante são akeles q te devotam amor, te ajudam a crescer e evoluir bem como akeles que dizem o q vc precisa ouvir, visando a sua evolução pessoal, e não te subjugar aos sentimentos egocêntricos e frustrações deles, o câncer do meio artístico como um todo.
Foi muito bom conhecer um pouco mais de SHAIDE HALIM.
Dapi disse…
quem diria heim shaide, vc aqui no blog da mafia, que diga-se de passagem, até pouco tempo não te servia.

realmente o mundo dá voltas não é mesmo...